domingo, 11 de setembro de 2011

Os bombeiros de Nova Iorque - Parte 1

Aproveitando o triste aniversário relembrado hoje pelo mundo, lembraremos dos honrados heróis que se arriscaram naquele momento pela vida do outro: os bombeiros de Nova Iorque.

Infelizmente, aqueles que não morreram aparentemente pagaram um alto preço pelos seus esforços.

O estudo

O Dr. Thomas K. Aldrich, presidente da Força-Tarefa de Proteção ao Trabalhador no 11 de Setembro do Estado de Nova Iorque e membro do Grupo Médico de Trabalho no World Trade Center (WTC) em 2007, realizou uma pesquisa sobre os efeitos respiratórios enfrentados pelos bombeiros de Nova Iorque.

Para os estudantes o Medscape Medical Students relembra o estudo, originalmente publicado no The New England Journal of Medicine (aqui), colocando-o em sua página inicial, em formato resumido (aqui).

No ataque, em 2001, morreram 341 bombeiros e mais do que 13 mil participaram das operações de emergência e resgate entre os dias 11 e 24 de setembro, dos quais mais de 91% participou do estudo. Estes submeteram-se a uma densidade de fumaça e poeira tóxicos sem precedentes naquela ocasião, além da exposição contínua nos 10 meses seguintes para a maioria deles.

O resultado, em muitos casos, foi: tosse aguda e crônica; comprometimento da função pulmonar, principalmente de natureza obstrutiva; e incapacidade respiratória, forçando centenas a se aposentarem.

Praticamente todo o departamento de combate ao fogo de Nova Iorque possuia dados pré e pós 11 de setembro, facilitando o acompanhamento do progresso no tocando aos danos pulmonares dos indivíduos. Assim, pôde-se determinar a taxa média de mudança no decorrer do tempo, bem como a porcentagem que desenvolveu função pulmonar anormal.

Segue o gráfico, mostrando a média obtida para o Volume Expiratório Forçado em um segundo (VEF1). Este nada mais representa do que o volume total expelido durante o primeiro segundo no teste de espirometria (em breve colocaremos mais detalhes sobre esta medida).


O VEF1 é uma das importantes medidas no diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), apesar de não ser muito útil na detecção de melhoras no quadro clínico e na qualidade de vida do paciente.

A análise

Para os bombeiros que nunca fumaram e não foram expostos ao WTC, o VEF1 diminuiu aproximadamente 50 ml/ano (1% por ano), de acordo com o grupo de controle dos trabalhadores de serviço médico-emergencial e dentro dos limites estabelecidos para homens nunca fumantes de idade comparável.

Entretanto, para aqueles que nunca fumaram e se expuseram ao WTC, a redução do VEF1 foi de aproximadamente 450 ml durante o primeiro ano pós-11 de setembro, correspondendo à 10% dos valores de VEF1 pré-11 de setembro. Para os fumantes, o quadro foi ainda pior, com uma redução de 550 ml, ou 12%, no primeiro ano. Ex-fumantes apresentaram resultados intermediários.

Houve apenas uma pequena melhora na média do VEF1 nos decorrer dos 6 anos após os atentados, apesar de a diferença entre os VEF1 previstos e observados ter melhorado discretamente.

A porcentagem de bombeiros com VEF1 anormal apresentava-se menor do que o esperado para uma população normal, a qual possui, na média, 5% de integrantes com VEF1 abaixo do Limite Inferior ao Normal (LIN); entretanto, essa proporção pulou para próximo de 20% durante o primeiro ano, para estabilizar-se em 13% posteriormente.

Vários dos bombeiros expostos ao WTC possuem testes de função pulmonar detalhados. Um quarto deles encontraram indícios de bronquite asmática, incluindo resposta ao broncodilatador, hiper-responsividade brônquica por metacolina, ou os dois.

Curiosamente, nem todo o tratamento é financiado pelo Corpo de Bombeiros, tornando difícil avaliar e estimar a influência dos possíveis tratamentos com broncodilatador, antiinflamatório, ou de outros tipos, mas aparentemente parece provável que esses tratamentos poderiam ter melhorado ou mesmo eliminado a doença de obstrução das vias aéreas em alguns casos.

A Dra. Márcia Alcântara, colaboradora do blog, identificou que as graves lesões nos brônquios dos bombeiros, juntamente com os resultados dos testes expostos, assemelham-se com aqueles decorrentes do tabagismo praticado por 20 anos ou mais.

Aposentadoria e Doenças Respiratórias

Até o final de 2008, mais de mil bombeiros de Nova Iorque se aposentaram por causa de deficiência respiratória, uma consequência da obstrução crônica das vias aéreas. Isso corresponde a mais de 9%, ou 700, de aposentadorias a mais do que o esperado normalmente.

Mais Medicina, mais estudos

Esperamos analisar mais um pouco este estudo e vários outros elaborados sobre os atentados. Tentaremos discutir também um pouco da questão Bioquímica, Farmacológica e Fisiológica, além da cobertura da Saúde Pública e uma possível comparação com o Brasil. Isso tudo fica para o decorrer da semana.

No mais, segue uma foto da escultura que homenageia os heróis do dia que faz parte da história do terceiro milênio.

A memorial to September 11th

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